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Rodrigo Bivar: Gema
5 Agosto - 1 Setembro 2020
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Sim, eis que os meus sentidos aprenderam sozinhos.
- As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas. -
Alberto Caeiro -
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Por trás de uma aparente simplicidade, as pinturas parecem ter um tempo interno desapressado. Deixam a sensação de que o artista encontra as formas dentro das formas, como se todo gesto fosse a afinação de uma intimidade. Bivar lida com matéria - não numa operação subtrativa como a de um escultor em pedra ou mármore, mas na manipulação livre, moldável e alterável do que é plástico. Se pudéssemos pegar nas mãos as formas que se vêem nas pinturas, elas teriam um toque mole.
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A pintura é um resultado. Passa por uns quantos testes até chegar à forma final. Por isso é irresistível imaginar que há outras cores e desenhos escondidos debaixo do que se vê na última camada. Uma arqueologia inútil, o Bivar disse.
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Alguns trabalhos escapam à “fórmula” tinta e tela. Talvez eles existam para negar fórmulas e afirmar a possibilidade e a liberdade do que é do campo visual. O uso de tecido em Hábitos Noturnos, por exemplo, cria as formas através dos recortes no tecido. É como se a pintura vestisse uma máscara que, ao invés de esconder o rosto, revela. Uma anti-arqueologia.
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Flaubert disse que o propósito da arte é fazer ver para, então, fazer sonhar. As pinturas de Bivar parecem nos ensinar a ver sem o vício das explicações, das comparações, das interpretações. As imagens ficam – como se depois de vê-las fosse impossível voltar atrás. E continuam seu desenho no espaço: não só fazem sonhar, como poderiam ter saído de sonhos do artista – o que criaria um circuito e uma transformação infinitos.
Laura Liuzzi
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Rodrigo Bivar inicia sua trajetória no começo dos anos 2000 e sua produção pictórica deste momento aproxima-se da figuração, porém com um desejado estranhamento como no ângulo em que as figuras se encontram e na falta de hierarquias entre os elementos. Ao longo de sua trajetória, ao distanciar-se da figuração, Bivar reestrutura a pintura por meio da combinação de formas e massas de cor. Com frequência pinta estruturas que orbitam pelo espaço pictórico propondo associações variadas. Como afirmou o curador Tiago Mesquita, em 2019, Bivar “trata o patético descompasso entre o que se espera e o que acontece com humor. A pintura para ele parece acontecer quando as pontas soltas se embaraçam e mostram que a exceção se tornou a regra”.
Graduado em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado (2005 - São Paulo, Brasil). Em 2020, Bivar recebeu o prêmio da Bolsa Pollock-Krasner Foundation Grant 2020-2021. Também ganhou o Prêmio de Aquisição do Centro Cultural de São Paulo em 2008, quando realizou sua primeira exposição individual na própria instituição. Desde então realizou diversas individuais, destacando: 2020 - Gema (Galeria Athena - Rio de Janeiro, brasil); 2018 - É Umas (Galeria Millan - São Paulo, Brasil); 2017 - Rodrigo Bivar (Instituto Figueiredo Ferraz - Sao Paulo, Brasil); 2010 - Turista Azul (Paço das Artes - São Paulo, Brasil).
Participa desde 2005 de mostras coletivas, dentre as quais: 2019 - Construções e Geometrias (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia - São Paulo, Brasil); 2018 - Com o ar pesado demais pra respirar (Galeria Athena - Rio de Janeiro, Brasil); 2017 - Os Desígnios da Arte Contemporânea no Brasil (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – São Paulo, Brasil); 2016 - Os muitos e o um: Arte contemporânea brasileira (Instituto Tomie Ohtake - São Paulo, Brasil); 2013 - Sesc VideoBrasil: 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea (SESC Pompéia – São Paulo, Brasil); 2011 - Itinerários, Itinerâncias, Panorama da Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo – São Paulo, Brasil); entre outras.
Rodrigo Bivar possui trabalhos em coleções importantes como: Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, Brasil), Centro Cultural de São Paulo (São Paulo, Brasil), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (São Paulo, Brasil) e Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, Brasil).
Rodrigo Bivar: Gema
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