Apresentação
Para criar uma estrela, uma artista viaja por sociedades, países e planetas dentro de seu quintal. Com uma única passagem, coleta sedimentos diversos, pigmentos minerais, basalto, quartzo, lazulita, jaspe verde e poeira. De volta à sua casa-bolsa-caixa, estas materialidades se acumulam em um abraço quente e plasmático.
 
No dilatar do tempo, a artista as transforma e traduz em brilhantes enigmas. Rasga, molha, tritura e aglutina restos de civilização em antigas novidades, inscrevendo símbolos para outros regimentos — o sol, a lua, o equinócio, o solstício e as mudanças de estação. A nova pele se faz pedra e assim a artista inventa uma geologia.
 
Para ler as marcas deixadas na matéria, o visitante pode considerá-las imagens, escritos ou alfabetos. É importante que também se dilate no tempo, estendendo um convite às ressonâncias. Tome o conhecimento como um neo-fóssil para viver do que se sabe, é preciso um grau de ficção.
 
Assim, mediamos o céu e a terra, o pulso cósmico e a finitude humana. Um corpo único de trabalhos reúne começos sem fins — úteros etúmulos  como um insistente palimpsesto que perdura ao se reinventar. Este é o desejo que mobiliza a política nos primeiros gestos criativos.
 
Refazer a polpa como se refizesse a carne do mundo; a fagulha das sinapses, a melanina nos fios de cabelo, o umbigo da memória. Das estrelas imaginadas, roem-se as ruínas e arquivam-se as sobras para os próximos experimentos. Voltamos a ver a terra depois de olhar o céu.
 
Bia Coslovsky
Vistas da exposição
Obras