André Griffo: A quem devo pagar minha indulgência?
A Galeria Athena tem o prazer de apresentar A quem devo pagar minha indulgência?, de André Griffo.
Resultado da pesquisa de André Griffo que relaciona questões sociais à História da Arte e da Arquitetura, a exposição conta com dez pinturas inéditas que ocupam os salões expositivos da galeria. As obras apontam o interesse de Griffo pela apropriação de espaços que, embora não se revelem identificáveis num primeiro olhar, são criados e impregnados com elementos contemporâneos que refletem sobre a estrutura social e religiosa, eventos políticos recentes, e, principalmente, valores historicamente consolidados.
Lugares inabitados, de passagem ou mesmo pinturas ícones da História da Arte ocidental tornam-se um cenário aberto, possível de serem recriadas pictoricamente e recontextualizados para a conjuntura atual. Seguindo essa metodologia, seis grandes pinturas estão dispostas na sala Cubo. O poder e a glória do pecado, Talvez valha contar com a sorte, Há sujeira embaixo da sujeira, O fim condizente com o começo I e II e A quem devo pagar minha indulgência? são títulos das obras que remetem ao enfoque que o artista escolheu: temas partem de uma liturgia religiosa que na exposição ganham um tom crítico e de contestação.
A quem devo pagar minha indulgência? dá titulo a mostra e a uma das pinturas. Durante a Idade Média, a Igreja Católica, que detinha um enorme poder político e econômico, ficou conhecida pela venda de indulgências, ou seja, concedia o perdão divino para qualquer pessoa que pagasse por isso. Trazendo para o contexto atual, o artista questiona quem são os outros com quem estamos em dívida e a quais poderes e controles sociais estamos submetidos diariamente. Para isso ressignifica lugares adicionando símbolos e signos contemporâneos que destacam as problemáticas cotidianas. Aparecem atributos da segurança pública e da violência, como o brasão da Polícia Civil e punhos com arma; símbolos da religião, como oratórios e imagens de pastores; signos da prostituição, com anúncios colados em paredes; entre outros tipos de ícones que dizem respeito à realidade atual.
Já na sala Casa, expõem-se quatro pinturas da série Anunciação Vazia, uma releitura dos tradicionais afrescos da Anunciação do pintor renascentista Fra Angélico. Nessa série, André Griffo propõe a representação dos espaços renascentistas clássicos sem a presença dos personagens originais. Como são conhecidas, as anunciações narram a história do anjo Gabriel no momento em que revela à Maria que ela fora escolhida para ser mãe de Cristo. Ao suprimir as figuras, o espaço vazio dirige a atenção para a arquitetura. Em contrapartida, o título da obra enaltece o elemento chave desta série: a assimilação da anunciação vazia traz à tona a crença na existência de um poder ou princípio superior, fundamentada a partir de uma narração imaginária.
A fim de incitar confrontos e comparações de diferentes momentos da nossa história, bem como expor valores enraizados, os trabalhos evidenciam os pensamentos dos indivíduos de uma determinada sociedade, seus valores e mudanças, e, em certas ocasiões, testemunham a imutabilidade das coisas.