Rafael Alonso: Pierre Pianos: Casa Pierre

8 - 12 September 2021

A Galeria Athena tem o prazer de apresentar a exposição Rafael Alonso: Pierre Pianos.

A exposição Pierre Pianos surge a partir da vontade de Alonso de articular sua produção recente com a coleção de imagens presente na Casa Pierre. Rafael apresenta cerca de 15 guaches produzidos durante o período de isolamento da pandemia.

A tradicional loja de pianos do Rio de Janeiro com mais de 40 anos de história, a Casa Pierre, além de ser uma referência em seu nicho, é conhecida pela sua icônica vitrine que fica acesa 24 horas por dia.

Os trabalhos - uma mistura de memórias fotográficas da infância, imagens de internet e fotografias feitas recentemente - produzem um conjunto heterogêneo, constituindo uma espécie de diário gráfico do período de quarentena que se articulam com o ambiente e com a história da Casa Pierre.
100 dias

O dia em que resolvi sair remando do Rio de Janeiro e só parei quando cheguei à costa da Namíbia. Separei duas garrafas de suco de cajú, três latas de grão de bico, uma barra de choquito e bastante água, claro. E não era eu, era outra pessoa, era só uma foto que eu consegui.

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Cavalo

Essa pintura tem uma curiosidade. Sabe o que? O Rafael tava montado em cima do cavalo e ele se apagou da foto. Essa pintura também é de um cavalo de beira de estrada, acho que um bom nome pra ele seria Branco, Branquelo, Branquinho, Branco, Quinho. Branquinho, Branquin? Branquin!!!

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Ninja

Só deixa eu fazer uma pergunta antes de você começar a escrever? Onde é que você achou essa moto? Eu adorava essa moto quando tinha 13 anos, quando eu tinha 13 anos essa moto era de outra cor, o verde foi ficando mais complicado com o tempo, ela andou bastante até parar sem ânimo numa rua sem saída do bairro do Cosme Velho. No fim dessa rua tem uma escola, pra chegar nessa escola é preciso passar pelo trilho do trem do corcovado, de moto.

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O mar mudou subitamente

A praia de Ipanema é um ponto de fuga. Desse ponto de vista de dentro da câmera digital de onde partiu a foto, há uma lente esférica que organiza o espaço criando um efeito de concentração de luz. Esse centro luminoso é traduzido em dados, deixando visível a sensação de desolação do calçadão de pedras portuguesas, sofrivelmente organizadas, vista de dentro do carro.

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Olívia

Certo dia começou a correr e só parou quando toquei o apito de plástico que carrego comigo quando levo ela pra roer madeira em Niterói. Olivia adora comer uns pedaços de madeira frescos, recém podados. De preferência por uma moto-serra. Correu três dias antes de ouvir o apito. A sorte é que eu tinha tirado essa foto pra lembrar de como ela era antes de sair.

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Rio Total

Isso não é uma foto? Na minha memória ele foi feito pra subir o alto Leblon nos anos 90 e só foi parar na Pereira da Silva em 2019. Custa três reais. Adorava ônibus quando o motorista tinha cortininha bordada com São Jorge e bola de cambio personalizada.

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Sol

Os peladões tão lá aproveitando o sol. Tão lá desde antes de tirarem a foto e parece que vão continuar por lá, aproveitando o sol depois. Até de noite tem sol por lá, ouvi dizer. Olhando pra pintura pela vitrine durante a noite eu não duvido.

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Ifood

Não esqueço de quantos dedos já tive um dia, 20 em cada pé, e todos funcionando! O vermelho ficou muito bem ajustado como o verde ligeirramente azulado do tecido que cobria a maca. Desse dia só me lembro disso e de ter tirado a foto pra não esquecer de contar os dedos quando saísse pra passear na ponta dos calcanhares no Brasil.

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Thiare

Essa cabeça me dá trabalho pra pintar, eu mexo todo dia e não consigo achar que tá bom. Mas nos dias que acho que tá bom, é bom demais, tiro até foto pra guardar. Por que eu sou bom de guardar. Mas essa cabeça dá muito trabalho. Essa cabeça parece que veio do Taiti, e as vezes eu acho que um pedaço dela tá sempre por lá, ou olhando pra aquela direção. De vez em quando eu bato palma pra ver se ela volta, as vezes dá certo, as vezes não. Mas como eu não sou do Taiti não sei bem como faz pra cabeça dela ficar aqui desse lado que eu gosto. No fim das contas, eu gosto por que eu acho que fica mais perto de mim do que do Taiti.

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Munch

Essa pintura aí é bem do dia em que ele empacotou, aproveitei e taquei gesso em cima pra ver o que acontecia. Ficou meio branco demais, mas como quase sempre começo com um fundo quente, ficou tudo bem com ele, como se pode ver pela expressão na foto. Deu pouco trabalho pra fazer já que ele ficou bem paradinho. Foi mais fácil porque ele tava morto, se tivesse vivo acho que ia sair mais colorido. E talvez um pouco maior também.

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Herética

Essa coruja apareceu umas três vezes até que eu tivesse coragem de pedir pra tirar uma foto e pintar. Porque pintar ao vivo eu não tive coragem nunca. Nesse mesmo dia em que eu tava me borrando de medo da coruja, pude ver que ela também tinha medo, mas era do morcego que passava dando rasantes cegos sobre a cabeça penosa dela. Eu ri bastante, tá gravado inclusive. Ri tanto de tive que corrigir a parte de cima da pintura, que saiu do lugar enquanto eu não tava olhando.

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Pedroca

Nesse dia eu tava puto. Quer me deixar puto é não responder quando eu pergunto. Até comecei o dia bem, dando aula de desenho, todo amoroso. Mas em algum momento, não me lembro mais porque, fiquei de ovovirado. A sorte é que em algum lugar, ainda tive a presença de espírito de lançar aquele roxo na cadeira pra fazer os amarelos do Pedroca vibrarem mais. Deu certo.

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Starlink

Quando eu mostro essa pintura que parece uma tela de atari ninguém acredita, mas eu juro que vi numa noite qualquer de maio de 2020 essa fileira de estrelas andando uma atrás da outra em fila indiana. Não foi no videogame, apesar de, pela imagem, parecer. A moldura laranja eu não vi, não. Botei depois, só na pintura, pra parecer videogame.

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Nature is metal

A natureza é implacável. Esse búfalo estripado não tá aí dizendo isso com esse olho arregalado e essa lingua azul de fora? Eu não tava lá mas eu vi enquanto o bicho estrebuchava por horas antes de sangrar até a língua ficar cinza. Aproveitei pra pintar enquanto o jantar não ficava pronto e a foto não fedia.

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Camus

A parte boa é que como os textos são curtos, eu me viro com uns adjetivos e umas figuras de linguagem. E fundo quente, quase sempre. Mas o dia em que ele posou pra mim, meu avô colecionador de ossos e livros tava junto, desde que me deu o livro faz 25 anos, ele não sai do meu lado. Já tinha lido uma vez, dessa segunda foi mais rápido, já que não usei cor exceto pelo fundo quente.

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